Bolsa de 50% em colégio particular não superou as dificuldades financeiras provocadas pela pandemia
“Troco 15 faxinas para que alguém possa comprar os livros didáticos do 7º ano do Bernoulli para minha filha estudar este ano”. Foi com essa frase comovente, escrita em um pedaço de papel, que a faxineira e lavadeira Eliane Lúcia de Brito, de 41 anos, mobilizou as redes sociais nos últimos dias. Moradora do Barreiro, em Belo Horizonte, a mãe clamou por um auxílio para ajudar na educação da filha, estudante e bolsista do colégio São Paulo da Cruz, na mesma região, que faz parte da rede Bernoulli.
Anne Yasmim Prado Pereira, de 12 anos, que também é atleta de jiu-jitsu e judô, tem um desconto de 50% em sua mensalidade, que é de pouco mais de R$ 1 mil, fora os livros didáticos, que custam aproximadamente R$ 1.700, válidos para o ano letivo todo. A situação financeira, que já era ruim, piorou com a pandemia de coronavírus.
“Em agosto de 2019, teve um incêndio na minha casa, provocado por um botijão de gás de cozinha. E lá, eu trabalhava com uma lavanderia, mas as coisas pegaram fogo. Graças a Deus eu ganhei máquina de doação. Depois, eu fiquei grávida, mas quando virou 2020, eu descobri que meu filho estava doente dentro da minha barriga”, disse. Infelizmente, a criança morreu após o parto.
“Na época que fechou a cidade, por causa da Covid-19, eu fiquei sem dinheiro, porque ninguém mais trazia roupas para eu lavar. Eu vivia só na base do auxílio emergencial. Atualmente, sem o benefício, eu crio cachorros para vender. Meu marido, que mexe com serralheria, está afastado do trabalho por doença e não está conseguindo receber salário ainda”, contou.
Como Eliane não quer interferir nos estudos da filha, ela resolveu pedir ajuda. “Eu devo receber um dinheiro de benefício, em torno de R$ 4 mil, que daria para pagar as oito mensalidades que eu estou devendo. No entanto, eu tinha esquecido dos livros, e com o que eu tenho não daria para pagar, por isso eu tentei trocá-los pelos meus serviços de faxina”, explica.
Almas caridosas
E foi assim que apareceu a pedagoga Ana Júlia Vilela, de 34 anos, na vida de Eliane e Anne. Ela comprou os livros para a criança poder estudar em troca das 15 faxinas.
Segundo Ana, tanto a determinação da faxineira e lavadeira quanto de sua filha fizeram com que surgisse o desejo de ajudar. “Anne estuda na mesma escola que meu filho mais velho, e sabemos o quanto ela é esforçada nos estudos. Assim, em uma conversa informal, descobri que Eliane estava com dificuldades em fazer a matrícula da Anne por falta de condições financeiras. Como trabalho com educação, fiquei muito preocupada em saber que já estamos na metade de fevereiro e Anne não estava com o material ainda. Eliane postou uma mensagem no Instagram fazendo uma troca do material por trabalho, e não pude deixar de ajudar”, argumenta.
“Vejo nela uma mulher super guerreira quando falamos dos filhos. Levei meus filhos para a academia de jiu-jitsu, mesmo local que as crianças dela treinam. Lá, vi o quanto ela batalha para proporcionar o melhor para a Anne e o José, seja nos estudos, seja no esporte”, completa.
Além de Ana Júlia, Eliane confessou a O TEMPO que recebeu a ajuda de uma outra pessoa. Trata-se do empreendedor, palestrante e escritor Rick Chesther, de 43 anos. Ele também postou a história em suas redes sociais, e teria se comprometido a pagar algumas mensalidades do colégio.
Determinação
Para Eliane Lúcia, o grande objetivo daquele bilhete não foi simplesmente pedir ajuda, mas mostrar para as pessoas que ela consegue correr atrás dos seus objetivos. Mãe também de um estudante de 15 anos, toda a família parece determinada em atingir os objetivos.
“A única coisa que eu tenho para oferecer é isso, são os meus serviços. Eu queria mostrar para as pessoas que eu tenho condições de trabalhar. Eu não quero nada de graça. Minha filha já estava preocupada em não conseguir mais estudar no lugar que ela está desde o 2º período, então eu vi que tinha que fazer algo”, afirma.
“A Anne Yasmim vende docinhos, o José Antônio, irmão dela, limpa a academia onde ele treina judô também e está aprendendo a dar aulas. E é isso. Nós podemos correr atrás”, conclui.
Fonte: otempo.com.br